O desenvolvimento do estágio supervisionado durante o curso de graduação em Psicologia é de singular importância na formação acadêmica de seus alunos. Certamente, aquele configura o primeiro momento em que eles podem promover, por si mesmos, a confrontação entre aquilo que vêm construindo no campo teórico e a aplicabilidade deste em uma prática concreta, que se apresenta, sempre, singular, confusa, inquietante, angustiante e inusitada. Porém, para além das dificuldades, ou talvez por causa delas, tais experiências re-configuram nosso universo de percepções e nos permitem refletir sobre o significado de nossa profissão.
É sobre um desses ricos momentos que o presente artigo trata. Nele trazemos, como ilustração e como ponto de ancoragem, o relato de uma experiência em que tivemos a oportunidade de desenvolver o estágio curricular supervisionado do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Estácio de Sá, da cidade de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em uma instituição voltada para a profissionalização de adolescentes pobres que visava ao seu ingresso no mercado de trabalho local.
A experiência a que nos referimos se iniciou a partir de um convite formulado pela instituição à Universidade, em busca da abertura de um convênio que sustentasse a prática de estágio supervisionado. A construção de tal espaço de relacionamento suscitou, a principio, uma reflexão sobre o que entendíamos como função do trabalho da Psicologia no âmbito institucional, uma prática que, embora não seja recente, apresenta inúmeras controvérsias que perpassam diferentes formas de entendimento sobre os conceitos de instituição, organização, sujeito e relações institucionais, por exemplo, que implicarão diferentes formas de se conceber a proposta de trabalho e de instrumentalização deste. Tais controvérsias passam pelas obras de Pichon-Riviere (1996), Bleger (1984; 2001), Lapassade (1977), Loureau (1975), ou Foucault, (1979; 2002), que influenciou, sobretudo, a perspectiva atual desenvolvida no Brasil por Marlene Guirado (1986; 1987), e Guillon de Albuquerque (1978), o que demonstra a enorme disparidade entre as propostas de se trabalhar em instituições a partir da Psicologia. Tal fato nos impôs, então, a necessidade de promover uma escolha teórica precisa, porque desta dependeria o entendimento e o desenvolvimento de nossas ações. Por alguns motivos específicos, que recobrem o conceito de instituição, de sujeito, de proposta de trabalho e de instrumentalização deste, nossa escolha recaiu sobre a perspectiva da Psicologia institucional concebida e desenvolvida por José Bleger, autor que, ao inscrever seu trabalho no âmbito da psicohigiene, propõe que este deva ser efetuado não sobre as individualidades, mas sobre o campo das inter-relações constituídas nas redes institucionais cristalizadas, objetivando uma flexibilização destas.
Dessa forma, nosso relato se inicia pela apresentação da perspectiva da Psicologia institucional proposta por Bleger para, em seguida, passarmos à apresentação de nossa própria experiência com um grupo de jovens que frequentava a referida instituição. Nossa esperança é que, ao darmos vida às nossas argumentações, o leitor perceba, por si mesmo, toda a riqueza de um trabalho que, se, por um lado, suscita resistências poderosas, por outro, se faz (re)construtor do sujeito e também da realidade que o cerca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário